Para ler...
O médico que me tratava – o que me proibira qualquer viagem – desaconselhou os meus pais a deixarem-me ir ao teatro; iria voltar doente, talvez por muito tempo, e no fim de contas teria mais sofrimento que prazer. Esse receio poderia ter-me detido se o que eu esperava daquela representação fosse apenas um prazer que ao fim e ao cabo, por compensação, pode ser anulado por um sofrimento posterior. Mas – tal como à viagem a Balbec ou à viagem a Veneza que tanto desejara – o que eu pedia àquela matinée era uma coisa muito diferente de um prazer: verdades pertencentes a um mundo mais real que aquele em que vivia, e cuja aquisição, uma vez feita, que não poderia ser arrebatada por incidentes insignificantes, ainda que dolorosos para o meu corpo, da minha experiência ociosa.
Marcel Proust – Em busca do tempo perdido: à sombra das raparigas em flor.
3 Comments:
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By Anónimo, at 12:35 da manhã
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By Anónimo, at 12:36 da manhã
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